Como muitos jovens santantonenses, Anizio Gonçalves deixou a sua terra natal, ainda adolescente, para continuar os estudos na ilha vizinha, São Vicente, tendo concluído em 2008. Um leque maior de possibilidades ditou que se instalasse no mercado são-vicentino a partir dessa data, atuando sempre no ramo das tecnologias. Por mais de uma década trabalhou por conta de outrem, mas há cerca de um ano que, conforme conta, sentiu a necessidade de “caminhar com os próprios pés”, e oferecer um serviço de maior qualidade. Foi quando decidiu criar a “AZ Inovações”. Uma empresa que hoje presta serviços por todo o país na área de software de gestão, por exemplo, de redes de computadores, segurança informática ou câmaras de vigilância.
Amilson Garcia, natural da ilha de Santiago, também teve de deixar o seu concelho berço, São Lourenço dos Órgãos, para perseguir o sonho de fazer mais por Cabo Verde. Quando estudante, há pouco mais de quatro anos, o acesso à internet não era o que é hoje. Tinha de caminhar cerca de três quilómetros para usar esse recurso numa praça digital do seu município. Obstáculos do tipo, juntados à vontade de aprimorar seus conhecimentos, fizeram-no mudar-se para a capital, onde, durante esse percurso de quatro anos, acumulou vários empregos com a meta de angariar fundo para a implementação do seu projeto. Amilson visionava um Cabo Verde à altura do resto do mundo, em termos de serviços tecnológicos. Um Cabo Verde que tirava o máximo proveito da sua posição geográfica. Hoje define o seu projeto, a plataforma de vendas online pioneira no país, como “uma empresa de tecnologia voltada ao comércio”. CVbuy.cv não permite apenas a compra e venda de produtos, mas também possibilita o rastreio de encomenda e entrega eficiente, bem como um pagamento seguro, tudo com softwares próprios. “O início foi um bocado difícil”, conta, “pois na altura não existiam os incentivos que existem hoje. Por isso, recomendo aos empreendedores a aproveitarem as oportunidades que o Executivo tem à disposição, a aproximarem-se da Cabo Verde Digital e a registarem as suas startups”.
O início foi um bocado difícil”, conta, “pois na altura não existiam os incentivos que existem hoje. — Amilson Garcia
São estes dois jovens, de 38 e 23 anos, que vão agora representar Cabo Verde na primeira edição do Web Summit no Brasil, de 01 a 04 de maio de 2023. Foram selecionados pela Pró-Empresa, entre mais de uma centena de startups registadas na base de dados do programa Cabo Verde Digital, levando em conta, entre outros, critérios como o alinhamento estratégico e o grau de inovação.
O seu contacto com o mercado da América Latina dá-se através do “GoGlobal”. Programa da Cabo Verde Digital, que procura promover o ecossistema de inovação do país a nível internacional, tendo-se já transformado na maior plataforma de conexão, networking e visibilidade de Cabo Verde para a indústria tecnológica em vários países.
“É um evento de envergadura mundial, com inúmeras oportunidades de troca de experiência. Ser selecionado pela Pró-Empresa deixou-me muito feliz.”, afirma Anizio Gonçalves, que revelava que vai para a Web Summit com a ambição de conseguir parcerias que tragam opções de oferta sustentáveis no mercado nacional, quer em termos de serviço como de preço, por forma a ajudar da melhor forma os seus clientes. “A melhor conquista que poderei trazer na bagagem é a experiência, e um parceiro que me permita ter soluções que deixem os meus clientes mais bem servidos do que estão agora”, conclui.
A melhor conquista que poderei trazer na bagagem é a experiência, e um parceiro que me permita ter soluções que deixem os meus clientes mais bem servidos do que estão agora. — Anizio Gonçalves
Já Amilson Garcia, vai para o Brasil com olhos postos na internacionalização da sua empresa, a “Inova Business”. “O mercado brasileiro, culturalmente, é muito parecido com Cabo Verde. Sempre tive vontade de lá ir. Receber este convite da Pró-Empresa é magnífico, é uma excelente oportunidade que me permitirá conectar com grandes empresas de todo o mundo”, revela. “A maior bagagem que poderei trazer é um conhecimento qualificado, que me permita aproveitar a localização estratégica do país para enviar encomendas internacionais a partir daqui.”
Ambos acreditam que a América Latina é um mercado que trará grandes ganhos para Cabo Verde, no processo de transformação digital. Um passo extremamente importante para o arquipélago, uma oportunidade para abrir horizontes e divulgar as potencialidades do país em termos tecnológicos.
“Cabo Verde já presta serviços para fora, nomeadamente para o mercado africano. Quem sabe com este contacto pode também exportar para o mercado da América Latina”, ambiciona Anizio.
“A nossa ideia é disponibilizar na nossa plataforma produtos de fábricas de todo o mundo, para que as pessoas possam comprar a grosso, em mercados como a China, os Estados Unidos ou Brasil, vender a partir de Cabo Verde e empreenderem com isso”, revela Amilson.
É precisamente esta a missão do “GoGlobal”. Promover um ecossistema de inovação a nível internacional, apoiando empresas nacionais no seu processo de expansão dos seus negócios para além das fronteiras do país. Esta é a sétima edição do programa. Com um envolvimento de vários players, já financiou mais de 70 empreendedores e cerca de 50 Startups com a oportunidade única de estarem presente em grandes certames internacionais, como é agora o caso de Anizio Gonçalves e Amilson Garcia.